Uma viagem de Uyuni a Oruro normalmente são 6 horas, mas não nessa noite em que resolvi ir pra lá, 16 horas de um viagem infernal!!!
Mais uma vez me ferrei com a companhia de ônibus, eu era a única gringa no meio de um monte de camponeses e mineiros bolivianos mascadores de coca, na primeira hora de viagem algo quebrou no ônibus, sem iluminação em um lugar frio pra caramba e ônibus sem luzes, uma hora para consertar o ônibus. Seguimos por mais 40 minutos e o ônibus para novamente, uma peça de algum lugar soltou, mais 30 minutos para repor a peça. Seguimos viagem e em 30 minutos paramos de novo e agora era pior, havia chovido muito e um rio que havia em frente estava transbordando (lá não existe canais em rios, imagine a cena então), dois ônibus que haviam tentado passar atolaram e todos seus passageiros tiveram que descer na água então, todos os outros ônibus (uns 20) resolveram esperar, e ai mais 7 horas parados/ dormindo a espera do rio baixar. Na manhã, todo o ônibus desceu, foram TODOS fazer xixi em frente ao ônibus, foi a coisa mais bizarra da vidaaaa (pior que ver a chola fazendo número 2 em La Paz haha) e eu morreeeendo de vontade de fazer xixi, não conseguia encarar o jeitinho boliviano, segurei segurei segurei até que não aguentava mais ai desci pra procurar um lugar escondido.. mas não tinha!!! Dai desisti de fazer xixi e voltei para o ônibus suando frio.
Atravessamos felizmente sem acidentes, e a partir dai seguimos viagem normal agora, masss eu ainda não tinha feito xixi e já estava fria e pálida, tanto que uma senhora me perguntou se eu estava bem e se eu queria um MACINHO DE COCA!!! Quase mandei ela enfiar aquela coca no c* aquela hora, de tão tensa que eu estava, tadinha rsrs
Quando eu estava pra desmaiar ou fazer xixi nas calças, paramos felizmente em um restaurante de estrada. Até doeu pra fazer xixi, mas nunca me senti tão feliz e aliviada!!! :)
Algumas horas depois cheguei em Oruro, dai peguei um taxi e pedi para ele me deixar em um hostel que eu tinha pego pelo Loonely Planet, só que o taxista não encontrava o hostel, então pedi pra ele me deixar em qualquer hostel perto da praça principal e foi quando ele me disse que isso não existia ali o.O
Parei na praça principal e fui a uma banca de jornal perguntar sobre o tal hostel que eu tinha o endereço ou se ele podia me indicar qualquer outro, antes do senhor abrir a boca me aparece uma senhora de 1,50mt com um casaco de leopardo toda maquiada dizendo que o Hostel Alpaca que eu procurava era de seu amigo e tals, e ai pediu pra eu acompanha-la até o telefone público que ela ligaria lá pra mim. Fui e, bem, o ÚNICO hostel da cidade estava fechado para reformas dai a senhora pegou no braço e disse pra eu acompanhá-la que ela iria me ajudar a encontrar uma hospedagem econômica porque ali perto da praça só tinha hoteis 5 estrelas. Eu não estava entendendo nada, tampouco tinha energias pra discutir com ela, então simplesmente comecei segui-la rua acima e rua abaixo com a mochila nas costas. Encontramos 3 pousadas que pareciam mais casa de prostitutas da São João em SP rs e não tinha banheiro privado ou chuveiro quente, quando eu já estava pra desistir de procurar algo econômico e ir a algum dos hoteis 5 estrelas a tal senhora começa a dizer que mora sozinha e que tem uma cama disponível e que talvez fosse bom ela ter uma companhia porque ela tinha gostado do que "meus olhos diziam" (aloca!), enfim ela me convidou pra ficar na sua casa. Olhei pra ela e achei estranho aquilo, mas lembrei que eu teria que pagar no mínimo US$150 numa hospedagem em uma viagem como mochileira, então não pensei uma segunda vez e aceitei o convite da senhora.
Ao entrar na sua casa me deparo com vários tapetes em forma de pé xD e claro, não estavam ali para enfeite, era para ser usado.. pisávamos nos pés de tapetes e iamos arrastando os pés para se movimentar hauahaua. Eu ia dormir na sua cozinha que estava em reforma na verdade, dai ela foi na rua e chamou um senhora que estava a paisana para ajuda-la com a cama, mas estavamos no terceiro andar da casa e a cama, uma cama do exército de ferro de uns 80kgs no porão o.O mais uma vez, imagine a cena eu e o rapaz tentando subir a cama SEM sujar o chão da senhora do casaco de leopardo!!!!
Enfim, montamos a cama, ela limpou e arrumou tudo e ai nem parecia mais uma cama do exército de 80kgs, naquele momento eu comecei a pensar em "onde é que to me metendo", mas ela estava sendo gentil, então tentei ver tudo da melhor forma possível, mas isso durou pouco. Estava arrumando minhas coisas para ir tomar banho e vi que não tinha mais roupas limpas, então perguntei ingenuamente se ela conhecia alguma lavanderia pra eu deixar minhas roupas, até hoje me pergunto o porque eu fiz essa pergunta pra ela. "Uma mulher de verdade jamais deixa suas roupas em lavanderia, ela as lava a mão, no tanque" foi a resposta!
Fui para o banheiro com uma bacia na mão com as roupas sujas, ela mandou eu colocar a bacia embaixo do chuveiro enquanto tomava banho (oi??? xD)
Após o banho, mal coloquei a roupa no corpo ela coloca uma toalha pequena no meu cabelo e diz pra eu ir pro tanque e não tirar a toalha da cabeça pra não tomar friagem.. e eu de novo abro a boca pra falar uma estupidez "mas não sei fazer isso, nunca fiz" e ela? "é fácil, te ensino agora!"... a partir daí comecei a pensar seriamente em sair da casa da senhora de casaco de leopardo, mas já era tarde demais, seria mancada sair dali para ir a algum hotel a essas alturas do campeonato.
Eram no total 7 peças de roupas que ela me fez lavar 4 vezes, porque as 3 primeiras eu não tinha lavado direito conforme ela (apesar que concordo rs), quase duas horas no tanque a mais de 3mil metros de altitude cansada de uma viagem do inferno, sem dormir e agora com frio. Minhas mãos estavam inchadas e minhas costas travadas de dor.
Quando terminei ela pediu pra eu me agasalhar porque iamos sair, me agasalhei e quando ela me viu "você não vai só com essa roupa, pode por luvas e mais uma meia" (e eu já me sentia um esquimó com tanta roupa, mas enfim). Fomos dar uma volta na cidade, passamos na estação ferroviária, no mercado central que já estava fechando mas ela fez questão de que eu comece "pastel de queso especial e Api", duas coisas horríveis que ela me forçou a comer e beber tudo, quase vomitei com o tal api, sem contar o medo de ficar com intoxicação alimentar depois, afinal, em mercado central na Bolivia não se brinca (tampouco se come haha), e depois andamos a toa na praça principal conversando sobre sua vida e também parando a cada esquina pra falar com alguém dali, porque ela simplesmente conhece todo mundo na cidade (professora de escola pública dá nisso rs).
Voltamos para casa e ai ela começou a preparar café e chá, uma caneca de chá pra ela e uma caneca de 350ml cheia de café para a brasileira, porque brasileiros tomam muito café, foi o que ela me disse. Dor na barriga na certa após essa quantidade de café, claro.
Depois disso tomei um analgésico e fui dormir chorando (de verdade) de dor e de vontade de voltar pra casa. (hoje quando lembro disso dou risada, mas no dia eu tinha pena de mim mesma haha).
Dormi bem, acordei cedo com ela na cozinha fazendo mais café pra brasileira aqui, mas dessa vez antes dela colocar o café na caneca, falei com voz ríspida de que iria beber só um pouco e nada mais, ela me olhou estranho, mas entendeu o recado :P
E depois de todas as falsas apresentações, fomos onde eu realmente queria ali em Oruro, visitar as fábricas de fantasias de carnaval, já que eu não estaria ali para ver o carnaval deles. Andamos a rua tooooda onde tem várias lojas de fantasias de carnaval, mas era, SÓ lojas de fantasias de carnaval, eu esperava grandes fábricas com o pessoal trabalhando e talz como me haviam dito em Uyuni, mas não tinha nada disso e mesmo assim tive que entrar em todas as lojas e tirar foto de tudo... como se eu não fosse brasileira e nunca tivesse visto fantasias de carnaval ¬¬'
Dai fomos almoçar, o restaurante tinha boa aparência, mas no cardapio a opção era uma só, e uma que eu não queria e ela me forçava a comer, depois de tantos não não não, ela desistiu e saiu do restaurante atrás de crianças mendigas para dar meu prato, a atitude foi bonita até, mas que foi estranho ahhhh foi. rsrsrs
Siesta, ninguém faz nada na cidade, então fomos dormir no começo da noite ela mandou eu me arrumar pra sairmos de novo, íamos andar sem rumo (céus!!!) e foi o que fizemos.
No meu terceiro dia lá fomos na saída da cidade ver umas esculturas de ferro que os mineiros da cidade fizeram em homenagem aos santos do carnaval Orureño. Legais pra tirar 3 fotos e já está, mas não, ela queria que eu tirasse foto de cada uma das esculturas que por sinal era uma longe da outra e com a altitude fazia ser mais longe ainda. E a noite, fomos a catedral onde naquela noite tinha uma comemoração da data da santa padroeira deles e ela católica fervorosa com muito orgulho ficou do inicio ao fim e eu junto, com cara de bunda e chingando todos aqueles cristãos idiotas hauahaua
Na manhã seguinte ela voltava ao trabalho na escola, então eu sai com ela, mas ela foi dar aulas e eu fui ao terminal comprar minha passagem pro horário mais próximo que tivesse... mas era só a noite. Então pela manhã fui ao mirante da cidade e a uma lan house, já estava de saco cheio daquela cidade de pessoas antipáticas e racistas (esqueci de contar aqui o quão racista a senhora do casaco de leopardo é, bom, já foi) e na lan house fiquei por umas quatro horas, a tarde voltei na casa dela para arrumar minha mochila, mas ai ela queria que eu a acompanhasse a uma feira semanal que vende de tudo, de tudo MESMO!Andamos pra cima e pra baixo e ela não comprava nada, mas pechinchava por tudo, só saimos de la quando eu disse que estava com dor de cabeça e na barriga (mentira!), mas nem com a mentira a velha sossega, me levou a um escritório de advogados amigos dela para me apresentar a eles, e pior, os caras adoraram ter uma brasileira ali que falava espanhol e me pegaram pra cristo, mais de uma hora conversando sobre a política brasileira/boliviana, sobre as culturas, racismo... o papo até é do meu interesse, mas ali.. céééussss!!!
E pra completar, quando ela disse ao advogado que a única coisa que não haviamos conhecido era o museu do Sr. Patinho, o velho pegou na minha mão e me levou ao museu.. mais uma hora de blábláblá sobre alguém que eu já conhecia toooda a história.
Depois de toda a odisséia apocaliptica, voltamos pra casa peguei minha mochila e fui para o terminal... com ela atrás, claro!!!!
A senhora do casaco de leopardo foi MUITO gentil em oferecer sua casa, uma senhora de 62 anos confiando em um forasteiro é rarissimo e não recomendado mesmo, sei que em todos os momentos ela queria que eu me sentisse e estivesse bem, mas ela infelizmente não soube ser anfitriã, dando ordens a todo momento, fazendo tudo conforme ela queria, enfim. Minha estada em Oruro não foi prazerosa, não conheci pessoas das quais vou sentir saudades, mas a experiência que tanto me irritou na época é hoje o maior texto de toda a minha viagem, porque aqui eu realmente tive história pra contar hoje. rs
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